Texto | Monique Evelle
Se você já assistiu alguma palestra minha sabe que me apresento do mesmo jeito sempre.
Eu sou Monique Evelle. E aprendi com Lélia Gonzalez que mulheres negras precisam falar nome e sobrenome , senão o racismo coloca o nome que quiser.
Mas nem sempre foi assim. A história é longa, depois eu conto.
Continuo sentindo orgulho do meu nome, claro. Porém, um dia desses me pequei refletindo sobre alguns momentos que já passei. Especialmente de 2017 pra cá. Ou seja, desde que sai na Forbes como 30 under 30.
Desde a criação do Desabafo Social, aos meus 16, sempre quis fazer com que minhas ideias e projetos ganhassem vida e continuassem existindo. Então, minhas tentativas primárias foram editais. Porém, depois de 2017 algumas coisas mudaram.
Percebi que quando fazia a inscrição de algum projeto em meu nome, o projeto era negado. Até então, acreditava que realmente era porque não escrevi direito o que precisava. Até que recebi o primeiro feedback de uma banca avaliadora:
Você já é Monique Evelle, não precisa passar nesse edital.
A partir disso, fiz um outro teste. Fiz a inscrição dos mesmos projetos nos anos seguintes, porém utilizando nomes de outras pessoas. Sim, os projetos passaram. Desde então, prometi não tentar mais nada.
As chances de continuar garantindo que minhas iniciativas continuem existindo, diminuíram consideravelmente. Ou fazia funcionar sozinha e com pessoas próximas, ou não poderia depender de editais e fundos de investimentos que acreditam que uma jovem mulher negra já chegou no limite da sua abundância.
Foram momentos como esses que senti menos orgulho de ser eu. Depois de ter demorado para construir autoestima, depois de ter estudado e trabalho dez vezes mais, depois de ter furado algumas bolhas, disseram que já era o suficiente pra mim. E não, isso não é síndrome da impostora. Isso é uma constatação.
De 2017 pra cá, sempre foi o outro dizendo qual era o meu limite. Limite de atuação, limite de tamanho, limite de vontades, limite de sonhos. Limites.
Pessoas não negras e não indígenas, muito provavelmente, não passam por isso nas rodas de investimentos. E mais, não são questionadas por serem sócias ou fundadoras de mais de duas empresas. São CEOs, investidores-anjos, mentores, sócios de mais cinco startups e tudo bem.
E no final, sempre me questionam:
Como você consegue fazer tudo isso? Você precisa fazer uma coisa só!
Eu tentei. Eu juro que tentei. Mas vocês fizeram com que eu tivesse que correr pra lá e pra cá pra fazer minhas ideias ganharem vida e dar certo.
Eu tentei. Mas vocês colocaram limites dizendo até onde eu poderia crescer. A branquitude (e parte de uma negritude adoecida) não consegue garantir abundância. A miopia da escassez faz com que realmente a gente não enxergue outras possibilidades.
E nessa jornada, eu consegui ser multipotência e fazer muitas coisas simultaneamente. Nunca foi minha primeira opção, nem a segunda. Fui obrigada a ser boa em mais de uma coisa.
No final de 2019, decidi que não queria mais isso e que minha próxima criação seria a que iria olhar com a atenção que merecia. No segundo semestre de 2020, nasceu a Inventivos.
Foi então que recuperei o orgulho de ter meu nome e sobrenome.
Não vou prolongar mais esta história, porque ela merece um livro.