Cultura

O que os brasileiros acham do Afropunk Festival?

É mágico chegar em um lugar onde as pessoas se sentem vivas, seguras e podem ser o que querem ser. Deve ser essa magia que leva as pessoas para o maior festival de cultura negra do mundo, o Afropunk!

Imagem: Lee-Roy Jason

Texto | Monique Evelle e Lucas Santana

É mágico chegar em um lugar onde as pessoas se sentem vivas, seguras e podem ser o que querem ser. Deve ser essa magia que leva as pessoas para o maior festival de cultura negra do mundo, o Afropunk!

Criado em 2005, o festival acontece anualmente no Brooklyn, Atlanta, Londres, Paris, Joanesburgo e se não fosse o COVID-19, em 2020 o Brasil ganharia uma edição em Salvador.

Muito mais que um festival de música, o Afropunk é sobre arte, cultura e política. Pessoas de todas gerações, com uma estética única e fascinante , que se preparam durante o ano para aproveitar os dois dias do evento. Só por isso, já é uma experiência muito diferente de qualquer festival no Brasil.

AFROPUNK BROOKLYN 2019

Além disso, mesmo o Brasil sendo o país com maior população negra fora da África, os festivais que acontecem não são representados por essa população. Nem como artistas, nem como público. Já no Afropunk, podemos arriscar a dizer que, 90% do público é negro. O que faz a experiência sair das mãos das marcas e passar a ser construída coletivamente pelas pessoas. Não a toa há uma exposição tímida dos patrocinadores, sem grandes ativações.

Como eles mesmo dizem:

“AFROPUNK está definindo a cultura pelas ações criativas e coletivas do indivíduo e do grupo. É um lugar seguro, um espaço para construir uma nova realidade, para viver a sua vida como bem entender, ao mesmo tempo que dá sentido ao mundo à sua volta”.

Talvez a palavra que mais represente o Afropunk seja “expressão”, de todas as formas possíveis. Deve ser por isso que é tão natural que todos e todas presentes se sintam tão à vontade e acolhidos para fazerem parte do festival. “Ser quem você é”, é mais que um mantra nesse ambiente, é apenas o que se é. Nesse festival em que as pessoas podem se expressar como quiserem, nada mais justo do que ver reis e rainhas, como se o império Ashanti fosse ali. O clima de fantasia e utopia é enorme. Para aqueles mais básicos, é como se a cada deus visto fosse possível reconhecer a divindade em si próprio e, em comunidade, reviver todo o panteão negro. É a Wakanda que deveríamos ser.

Ir para o Afropunk significa estar em comunidade entre comunidades. Com participantes de vários lugares do mundo, é como se a diáspora negra pudesse se encontrar para celebrar a sua própria resistência, força e vida. Não é todo o festival que expõe a frase “We see you (Nós vemos você)” como signo de identificação entre os presentes. A cada sorriso, cumprimento ou interação é como se todos estivessem falando “We see you in us (Nós nos vemos em vocês)”. Por conta disso a presença de uma feira de empreendedores e projetos de ativismo locais é tão especial. É mais uma das formas de apoiar e incentivar as iniciativas feitas por negros e para negros.

OS BRASILEIROS SOBRE A EXPERIÊNCIA DO AFROPUNK BROOKLYN 2019:

“Tem uma coisa de viver mesmo. Não é um show que você quer assistir e depois ir embora. Você fica. Você precisa se adaptar ao lugar, achar o seu desenho, fazer escolhas.

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Bárbara Soalheiro, fundadora da MESA.

” O Afropunk é uma plataforma que sempre admirei e nunca imaginei tocar no festival. Estava com medo da recepção, mas foi ali que tive a certeza que as pessoas negras no geral são ligadas de alguma forma pelos tambores, pelos graves. Foi único! Foi tão incrível que me produzi, pedi para fazerem roupa, coisa que nunca fiz e nem faria em outro festival.”

Wesley Miranda, DJ e chef de cozinha.

“Acompanho o AFROPUNK através das plataformas digitais e achava que sabia como era o Festival. Impossível prever e entender a energia sem viver a experiência! Para mim, ainda melhor que todo o conteúdo e line up incrível, é o público. Eles fazem o AFROPUNK Festival ser realmente único.

Potyra Lavor, jornalista

“Acho que o ponto mais forte de tudo é reconhecimento. Tanta montação perde um pouco do que eu acredito ser movimento, mas ele (o movimento) também é estético em ação e não precisa ser físico sempre. Existe troca mesmo sem ser verbal. A mensagem tá ali em tantos fenótipos, vozes, origens, palcos. É uma pequena utopia com ingresso. Você entra em um mundo que queria que se expandisse para além do Commodore Park. Que chegasse em lugares onde enaltecer a negritude não seja excessão. Saí com vontade de mais, que agosto de 2020 fosse amanhã.”

Raul de Lima, fotógrafo

“Frequento o AFROPUNK BK há 5 anos e cada vez mais tenho tido a convicção que nossa conexão diásporica é muito potente! Fico realmente emocionada e inspirada mas dessa vez teve um gostinho especial porque tivemos a primeira atração brasileira no line up e um time muito diverso de criativos, empresários, artistas, fotógrafos, modelos, DJs, dançarinos, diretores de arte, influencers compartilhando da mesma experiência! Eu sou uma amante das artes, respirar e trocar com a galera daqui é muito enriquecedor!”

Juliana Dejesus, Produtora Cultural

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